III. Piso da enfermagem, tributos e relação com operadoras

Por Rafael Barbosa, CEO da Bionexo

Um balanço que balança, mas não cai: piso da enfermagem, tributos e relação com operadoras

Olhando agora mais para os prestadores de serviços, temos desafios enormes pela frente. Muito foi falado sobre o piso da enfermagem, projeto que já foi aprovado no congresso nacional mas que ainda não foi regulamentado para execução. Seus impactos, segundo a ANAHP, podem chegar a R$ 16 bilhões para os cofres públicos e reduzir em até 7% a margem operacional de alguns prestadores listados em bolsa, segundo cálculo de analista do JP. 

A pressão sobre os custos com pessoas infelizmente não é única e é acompanhada pela segunda maior linha de despesas dessas instituições – suprimentos. O IPM-H, Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais, calculado pela FIPE e Bionexo, mostra que após quatro meses de inflação negativa, a média de Novembro e Dezembro está na casa de 0,92% por mês, o que anualizado representa +11%, ou seja, 5x a variação acumulada ao longo de 2022 (1,95%). Para dar aquele toque final, 12 estados da federação decidiram revisar, para cima, suas alíquotas de ICMS, o que impacta diretamente em materiais médicos e medicamentos, podendo elevar os preços destes itens em até 6%.

Se nas linhas de custos a coisa não está muito amigável, a linha de receita também não quer ficar de fora da festa. Além do volume de atendimentos, cirurgias e outros procedimentos que compõem a receita dos hospitais e índice de ocupação terem subido, ou talvez precisamente por isso, a sinistralidade dos planos subiu também. Seja por problemas de administração e composição de risco, seja por infortúnio involuntário, não está fácil para os prestadores garantir seu pagamento no montante e tempo adequado. Dados da ANAHP, ainda referentes aos primeiros semestre de 2022, indicavam um aumento de 32% no percentual de glosas em relação ao mesmo período de 2021 e de quase 10% no prazo médio de recebimento que chegou a marcar 77 dias. 

Adoraria encontrar indícios de que este cenário poderia se mostrar mais ameno em 2023, mas não encontrei. Portanto, disciplina continua sendo o nome do jogo e um olhar mais escrutinado sobre os balanços, especialmente das empresas listadas em bolsa, deve ser esperado. Eu ouvi Americanas?

Leia a sequência de artigos:

I. Inteligência artificial: GPT3 e máquinas que agem

II. Fusões e consolidações: O abismo entre a planilha e a sinergia na prática

IV. Mar revolto para tech: um novo setup para healthtechs

V. Tudo novo de novo: o que será do SUS?