IV. Mar revolto para tech: um novo setup para healthtechs

Por Rafael Barbosa, CEO da Bionexo

Anteriormente falamos das dificuldades encontradas pelos prestadores. Pois bem, quando olhamos exclusivamente para o mundo de tecnologia, e não apenas em saúde, o ambiente também não está muito favorável. Não é segredo para ninguém o quanto as ações de empresas listadas e privadas de tecnologia foram “corrigidas” no último ano. O índice NASDAQ, que agrega as ações de empresas de tech nos EUA, caiu 28,5% no ano, com empresas como a Meta (dona do Whatsapp, Instagram e Facebook) caindo mais de 60%. O aumento dos juros americanos fizeram com que as empresas que tinham seu valor de hoje demasiadamente carregados por uma futura saída ao final do arco-íris, e não pela geração de caixa ao longo da jornada , sentiram, e muito. 

Mas na verdade sabemos que as empresas mesmo não sentem, quem sente são seus funcionários e isso ficou claro com as demissões massivas que aconteceram. Estou falando do passado mas, infelizmente esta tempestade ainda não passou. Como referência, até o dia 19 de Janeiro, já haviam sido cortadas 1,6 mil vagas em empresas de tecnologia por dia, ou seja +30 mil. As empresas de tecnologia que atuam no setor de saúde não estão isentas deste ambiente. 

No Brasil recentemente surgiram muitas healthtechs, já são mais de mil que atuam nas mais diversas frentes dentro do setor. Além disso, temos aquelas empresas com forte componente tecnológico, como os novos planos de saúde que já reúnem mais de 80 mil vidas, um número ainda pequeno em relação aos planos tradicionais, mas que mostram crescimento percentual muito acelerado.

Todavia, 2023 é um ano crucial para que estas empresas em sua maioria ainda consumidoras de caixa possam provar se conseguem escalar suas próprias operações e se tornar relevantes suficiente para entrar no mapa dos grandes, ou se sua trajetória estará mesmo mais focada em um nicho mais restrito da economia. 

Além dessas, todas as demais entram o ano com dever de casa de fazer mais com menos, de reduzir ou zerar sua queima de caixa para poder gerar resultados suficientes para não precisar acessar mercado nos próximos 24 meses. Fazer isso, sem comprometer o longo prazo e ainda sem deixar de crescer será um grande desafio para essas máquinas que estavam configuradas para comprar crescimento futuro e que, em muitos casos, desaprenderam a fazer escolhas mais duras.

Leia a sequência de artigos:

I. Inteligência artificial: GPT3 e máquinas que agem

II. Fusões e consolidações: O abismo entre a planilha e a sinergia na prática

III. Piso da enfermagem, tributos e relação com operadoras

V. Tudo novo de novo: o que será do SUS?