II. Fusões e aquisições: O abismo entre a planilha e a sinergia na prática

Por Rafael Barbosa, CEO da Bionexo

Naturalmente este assunto é muito menos cool do que o anterior mas, acredite, não menos importante. É sabido que o setor de saúde – seja do lado prestador, quanto fornecedor e pagador – passou por um ritmo acelerado de fusões e aquisições nos últimos anos, garantindo casas em Angra para muitos sócios de escritórios de M&A. 

Sorte destes que fizeram as transações e não ficaram com a responsabilidade de entregar as tais sinergias prometidas aos investidores. Sinergias que adviriam das combinações dos negócios e integração das empresas, notadamente de seus processos, sistemas, pessoas e culturas. 

O legado tecnológico do setor, ao mesmo tempo que proporcionou sua digitalização inicial nos moldes do final dos anos 1990 e início de 2000, hoje está cobrando sua fatura. Soluções on-premise por definição, foram feitas para funcionar de maneira auto contida. Não peça a elas para conversarem com outras soluções de maneira fácil ou aceitar inputs e outputs de linguagens distintas e tecnologias modernas que a coisa pode azedar um pouco. A regra de qualquer grupo econômico do setor em janeiro de 2023 é uma salada de soluções que não se comunicam entre si, banco de dados segregados e organizados de maneira não traduzível, além de um limitado conhecimento técnico por parte da maioria das equipes para fazer desses limões, limonadas. 

Neste sentido, a efetiva realização de sinergias operacionais depende de uma variável obrigatória, qual seja: a adoção urgente e massiva de ferramentas baseadas em nuvem. Soluções essas que possam coordenar processos de maneira inteligente, eficiente e compartilhada entre agentes de dentro e fora dos muros de cada instituição. 

Um salve para aqueles que criam, investem e contratam soluções especialistas para resolver os problemas do setor e que vão além das aplicações chamadas de front-end, ou seja, além da interface clínica das soluções. Existem muitos processos e problemas não clínicos cuja tecnologia digital baseada em nuvem pode ajudar, e muito. A oportunidade é grande e está aí para quem souber aproveitar. 

*Note que não vejo este cenário atual como ruim, pois aquelas organizações que efetivamente conseguirem avançar na incorporação plena de tecnologia digital em sua gestão, estarão léguas de distância das demais e poderão experimentar margens operacionais saudáveis e consideradas pouco prováveis no patamar de digitalização hoje conhecido. 

Leia a sequência de artigos:

I. Inteligência artificial: GPT3 e máquinas que agem

III. Piso da enfermagem, tributos e relação com operadoras

IV. Mar revolto para tech: um novo setup para healthtechs

V. Tudo novo de novo: o que será do SUS?