Como a tecnologia pode ajudar no controle de vacinas e itens essenciais na saúde

A Tecnologia IOT – Internet das Coisas, permite maior acesso aos dados de saúde e auxilia a rastreabilidade de itens estratégicos 

por Ubirajara Maia, Vice-presidente de Tecnologia e Produto na Bionexo

Com mais de 14 milhões de infectados e se aproximando dos 400 mil óbitos, o Brasil segue na retaguarda global da contenção do novo coronavírus. Tanto é que se tornou recentemente o país das Américas com maior taxa de mortes causadas pela Covid-19 por milhão de habitantes, conforme dados do site Our World in Data. 

Atualmente na segunda posição do ranking mundial de óbitos, podemos superar os Estados Unidos e atingir a liderança já no segundo semestre, caso se mantenha o ritmo atual de mortes, segundo projetam os especialistas da Universidade de Washington (EUA).

Um recorde indigesto frente ao trabalho hercúleo que teremos no por vir. Pois, se o desenvolvimento da vacina contra o Coronavírus mobilizou a comunidade internacional em 2020, a imunização em massa vem sendo neste ano o principal desafio. Embora tenhamos superado algumas barreiras iniciais que marcaram a “vacinação às cegas” no início do ano, que incluíam desafios operacionais envolvendo falta de planejamento, defasagem tecnológica e ruídos de comunicação na coleta e compartilhamento de informações, ainda estamos avançando a passos vagarosos neste processo. Este exigirá cada vez mais das instituições de saúde, o uso de tecnologias e soluções envolvendo Internet das Coisas que concedem mais autonomia e liberdade aos pacientes no acesso aos seus dados e protocolo médico.

Não por acaso, o Brasil ocupa hoje a 56ª* posição global na aplicação de doses da vacina contra a Covid-19, considerando o número de doses a cada 100 habitantes, segundo dados compilados pela Agência CNN com informações das secretarias estaduais de Saúde e do site Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford, no Reino Unido. Em números absolutos, o país se encaminha para 38 milhões de doses aplicadas e surge na 5º colocação (mesmo lugar se considerarmos as nações do G20).  

*Atualização: em 30 de junho de 2021 o Brasil ocupava a 68º posição global no ranking de vacinação com 46,59 doses aplicadas a cada 100 habitantes e era o 4º colocado no total de doses (10º se considerarmos as nações que compõe o G20).

Por fim, um levantamento recente da Bionexo apontou que existe no Brasil um déficit de 7,6 milhões de medicamentos para o combate à Covid-19, ou seja, produtos solicitados pelos hospitais e não atendidos pelos fornecedores devido à alta na demanda. Entretanto, há algum sinal de otimismo nesse compêndio de más notícias. Com mais de 27,5 milhões de brasileiros vacinados, ou cerca de 13% da população nacional, o Brasil registrou nas três primeiras semanas de abril o seu melhor desempenho na imunização contra o vírus desde que a vacinação começou, com média diária acima de 740 doses aplicadas (quase o dobro do mesmo período no ano anterior).

Diante desse cenário, é cada vez mais necessário aos hospitais, clínicas e demais instituições do setor de saúde o uso de inteligência tecnológica e soluções digitais para maior controle operacional e estratégico em relação aos estoques e abastecimento das unidades hospitalares. Nesse sentido, não é novidade que as healthtechs desempenharam na última década um papel fundamental no setor, integrando instituições e fornecedores, reduzindo custos operacionais e trazendo por meio de digitalização dos processos maior eficiência aos agentes de saúde. A demanda reprimida era tanta que a quantidade de healthtechs no país quase dobrou em dois anos, indo de 228 (2018) para 542 (2020), segundo o levantamento Distrito Healthtech Report 2020.  

blue and white plastic bottle

Em meio às tecnologias que vem ganhando terreno nos últimos anos, as soluções envolvendo a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) estão em destaque ao mudar a forma de interação entre os hospitais e mercado de saúde com os pacientes, que conseguem por meio de ferramentas IoT receber informações a respeito de seu estado de saúde, por exemplo. Segundo a consultoria norte-americana Grand View Research, os investimentos do mercado global de saúde em tecnologias, dispositivos, softwares e serviços de IoT devem atingir US$ 534,3 bilhões até 2025. Já um estudo recente da International Data Corporation (IDC), fornecedor global de serviços de consultoria e inteligência de mercado, apontou que o setor de saúde obteve um ganho de 14,5% em sua indústria por meio de soluções IoT no ano de 2020, sendo o ramo menos impactado pelos reflexos econômicos negativos da pandemia do novo coronavírus. Segundo a análise, o monitoramento em tempo real à distância dos pacientes é uma das soluções que mais recebeu investimentos no ano passado.

No Brasil, um case ilustrativo da aplicação do IoT está  na rede de laboratórios Fleury, que adotou em março do ano passado uma solução integrada pela Bionexo (multinacional brasileira) em parceria com a Bomi (operadora logística italiana) chamada “Biotracker”, a qual oferece a gestão automatizada dos estoques, combinando o uso de hardwares e softwares para operação com Identificação por Rádio Frequência – a tecnologia RFID. Após um ano de uso, a plataforma permitiu à rede de medicina diagnóstica reduzir os custos operacionais, rastrear e controlar em tempo real os itens do estoque, aumentar o seu nível de eficiência em toda a cadeia de suprimentos e ainda otimizar o tempo de processos como o inventário, que passou do processo manual com duração de uma semana para o processo automatizado e finalizado em menos de uma hora.

Dessa forma, as soluções IoT podem ser debatidas à luz da necessidade de maior controle estratégico dos produtos hospitalares uma vez que promovem maior eficiência, transparência e inteligência à cadeia de suprimentos, assegurando o abastecimento ideal dos estoques e a ampla visibilidade do ciclo de reposição. Os benefícios aos pacientes, por sua vez, abrangem a possibilidade de ter acesso a informações sobre os seus dados e estado de saúde, fornecendo-lhe os subsídios necessários para acompanhar melhor a sua condição física e cuidar de forma apropriada da própria saúde. Por meio do empoderamento do paciente e das instituições de saúde, quem ganha é a sociedade como um todo.