Era uma quarta-feira, dia 11 de Março de 2020, por volta das 21h quando recebi a ligação da Gerente de RH da bionexo. Me lembro como se fosse hoje. Estava sentado com meu computador aberto na mesa da sala e as crianças já tinham ido dormir. Nossa Gerente reportou que um colaborador havia chegado de um cruzeiro na Itália com sintomas gripais e ido trabalhar no escritório por dois dias.
Para quem não lembra, em março de 2020 a Itália era o epicentro da pandemia que mudaria nossas vidas. Não sei se para sempre, mas pelo menos por um longo tempo. No dia seguinte, logo cedo, reunimos a diretoria e tomamos a decisão de suspender o trabalho no escritório; fui de mesa em mesa pedindo a todos que fossem para casa. Preparamos a comunicação a todos, disparamos, acertamos alguns outros detalhes, depois desci no elevador, entrei no carro e desabei a chorar.
Não sabia bem porquê, mas, de certa forma, entendi que dali para frente muitas coisas iam mudar. O medo que senti naquele momento, sendo responsável pelo trabalho e condições de trabalho de mais de 500 famílias marcaram minha história. Será que íamos conseguir manter o emprego de todos? Será que íamos ser capazes de prover condições seguras de trabalho? Será que nossos clientes âncoras, os hospitais, vão sobreviver ao baque?
Passado o tempo, agora neste mês, mais especificamente no dia 06 de Dezembro de 2021, abrimos novamente o escritório para aqueles que desejem trabalhar daqui. Foram 635 dias com escritório fechado. Neste momento, mesmo com cuidados ainda importantes, já temos melhores tempos no horizonte: taxas altas de vacinação permitem a redução dos casos, liberação de leitos e um ensaio à normalidade.
Mas essa normalidade, ou nova normalidade, que tanto se falou nesses tempos recentes, nos traz uma coisa que mudou, acredito eu, para sempre: a relação do profissional com o espaço de trabalho. Claro que não é para todas as profissões e funções, mas para muitos o trabalho remoto ressignificou como se organiza o trabalho e a vida.
Pensamos muito em como seria na bionexo. Voltaríamos todos ao presencial? Teríamos escalas obrigatórias no escritório? Teríamos times 100% remotos e outros não? Enfim, procuramos destrinchar a questão e chegamos à conclusão, após também ouvir nossos colaboradores, que estamos em um momento histórico e não podemos perder esse bonde (caso não saiba o que é um bonde, pode procurar no google).
A criação de um ambiente digital de trabalho em que o colaborador escolhe onde quer estar é tão revolucionário para a organização da vida quanto a criação da máquina a vapor ou da tecelagem industrial na primeira revolução industrial. Ou até mais, pois mesmo o trabalhador saindo do campo e indo para a fábrica, ainda exigia-se sua presença física. Agora não mais. Estou seguro que não sabemos ainda o tamanho do impacto dessa mudança.
Muitos me perguntam: “Mas é mais produtivo estar em casa ou no escritório?”. A resposta é que não sei. Mas sei que o benefício para muitos de reduzir, às vezes, 2-4h horas diárias de deslocamento, ou o benefício de poder levar e buscar os filhos na escola, de poder ter salários de capital morando no interior, de não precisar romper com suas raízes familiares e físicas para ascender profissionalmente, coloca um potencial delta de produtividade em um lugar tão ínfimo dentro da perspectiva de ressignificação da relação com o trabalho nos próximos mil anos, que nem vale muita saliva.
Talvez a melhor pergunta seja: Como fazer este novo modelo de trabalho, mais produtivo que no escritório?
Muitos gestores preferem que os funcionários voltem pois querem ter “controle” visual sobre eles. Mas os colaboradores não querem voltar (foi o que 80% dos nossos colaboradores disseram, em pesquisa, aqui na bionexo). Isso me mostra como, muitas vezes, as ações de gestão são feitas para atender as necessidades do gestor, que em geral tem condições melhores de ir ao escritório, mora mais perto, tem ar condicionado, babá, etc. Eu ouvi dizer Empatia? Bom… antes eram preciso correntes para se ter controle sobre a força de trabalho, e se seu modelo de gestão ainda depende disso, acho que tem alguma coisa meio urgente para ser aprimorada.
Mas não é importante o contato presencial? Claro! Vínculos de confiança são sim mais facilmente estabelecidos presencialmente, bem como sessões de criação coletiva e outras tantas funções. Criar espaços, rituais e momentos para isso é essencial. Mas sempre que possível, de maneira espontânea, livre e voluntária, assim como deve ser um novo tempo onde nossas escolhas sejam acolhidas e respeitadas em diversas dimensões e o local de trabalho entrou agora para essa roda também.
Aos meus amigos e amigas de São Paulo – SP, mas também do Crato (CE), Cornélio Procópio (PR), Três Lagoas (MS), Teresina (PI), Manaus (AM), Goiânia (GO), Penha (SC), Juiz de Fora (MG), Guadalajara – MX; Buenos Aires -AR e nas mais de 94 cidades no Brasil e América Latina, onde temos pessoas engajadas e trabalhando em uma mesma missão. Sejam bem vindos à esta nova dimensão da revolução digital. Podemos estar longe fisicamente mas sempre unidos pelo mesmo propósito.